terça-feira, 16 de novembro de 2010

Formato mínimo (Parte I)

Era noite de sexta-feira, fim do mês de agosto e a festa estava muito boa.
Eu vi quando ela entrou, sozinha, com cara de que não sabia bem o que estava fazendo ali, de óculos, cabelos soltos e um vestido daqueles que não mostra quase nada, larguinho, mas que faz qualquer pessoa pensar o que ele esconde... Tinha um ar de inocência que a fazia parecer quase uma criança. Não sei o nome dela, nunca soube.. Até quis saber, quis muito até.
Eu tinha meus 25/26 anos e estava lá atrás de diversão, a procura da próxima menina, nada de mais, só mais uma noite normal.
A bebida estava boa, a música excelente, mas me peguei meio sem saco pra grupinhos de conversa, estava um pouco agitado e quando dei por mim tava olhando em volta e dado voltas na casa em busca daquela menina. Eu só podia estar louco, tanta gente interessante, tanta menina mais bonita e disponível, e eu atrás daquela menina estranha.
Em certo momento a vi, sentada, bebendo, ainda sozinha. Me aproximei, perguntei seu nome, mas não ouvi por causa da música alta, mas sorri quando ela respondeu. Puxei ela pra dançar, mas após a primeira música reparei que não estava muito a vontade. Fomos pra um canto da sala, ficamos conversando e bebendo, confesso que mais da metade do que ela dizia eu nem ouvi, mas sorria e afirmava com a cabeça pra tudo que ela dizia. A bebida aparentemente estava fazendo efeito nela, lentamente mas fazia, pois ela sorria e falava de forma mais solta. Ela não era exatamente bonita, mas tinha alguma coisa que não era muito comum ver nas meninas que eu costumava a andar.
Depois de um tempo aquela conversa toda não tava rendendo muito, a bebida tava batendo muito lentamente nela, ofereci então um acido. Ela fez uma cara de surpresa, duvida, mas acabou aceitando.
Um tempo depois quando vi que ela tava numa onda interessante, me aproximei e sem nenhuma resistência a beijei. Ela me beijava de volta como quem tem fome, passava a mão nos meus cabelo e segurava com firmeza o cabelo na altura da minha nuca. Com as mãos nas costas dela sentia seu corpo responder aos meus beijos. Aproximei minha boca de sua orelha e dei a primeira e única investida da noite;
- Vamos pra minha casa?
Pra minha total animação, ela topou, sem mais, sem perguntar nada. Via por trás de suas lentes que havia algo nos teus olhos que derramava confiança e vontade, bem diferente de quando a vi pela primeira vez.
Entramos no meu carro, o trajeto foi curto, e chegamos rápido. No caminho, eu passava a mão por suas coxas, e ela passava sua mão sobre a minha mão. Esse carinho que ela fazia tinha algo de tão inocente e confesso que isso me atordoava de alguma forma.
Entramos no prédio e subimos o elevador nos beijando, eu passava a mão por seu corpo por debaixo de seu vestido e me excitava ainda mais a qualquer resposta que ele demonstrava a meus toques.
Ela passava a mão na minha calça e segurava meu cinto com tanta força que parecia que queria arrebentá-lo. Sua respiração me enlouquecia, tirei sua roupa tão rápido quanto pude, e ela abriu minha calça tão afoita que nem percebi. Em pouco tempo transavamos trôpegos no sofá da sala. Não dizíamos palavra alguma, o único som que eu ouvia era respiração ofegante, gemidos e sussurros inteligíveis.
Gozamos, ambos, muito rápido, ela primeiro e eu em seguida.
Fiquei um tanto “puto” pela rapidez, não sabia se culpava o álcool, o acido... Acho que tentei me justificar, mas ela estava com uma expressão linda, leve, distante... Aparentemente nem me ouvia. Ela chegou mais perto, me abraçou, fechou os olhos e assim ficou.
Eu pensei em levantar, tomar um banho, levar ela pra casa dela e virar a página, mas confesso que tinha algo muito bom naquela situação, o calor do teu corpo, te coração acelerado, teu cheiro...
Não sei se ela estava dormindo, mas seus olhos continuavam fechados e sua respiração estava bem mais calma agora. Sem os óculos ela era mais bonita, reparei nos traços do teu rosto, passei a mão sobre ele e não tinha mais vontade alguma de sair dali.
Fiz planos de conhecê-la melhor, sem acido e sem musica alta. Olhando pra ela adormeci e naquele momento ela era linda... Perfeita
Não sei o que houve, ao acordar não havia ela e nem qualquer vestígio que essa historia tinha sido real. Levantei joguei minhas roupas no cesto pra empregada lavar, ainda completamente atordoado.
-Ok. Fica tranqüilo, é só mais uma – pensei – ela não tinha nada especial. Foi só mais uma sexta-feira normal, com uma festa boa e uma transa típica.
Na verdade por muito tempo duvidei que essa noite tivesse mesmo acontecido, achei que era um delírio meu, ter tido uma menina tão doce e diferente, não tinha testemunhas e nem mesmo um nome pra me provar que ela existiu.
Depois de quase dois anos a vi na rua de mãos dadas com um cara. E só nesse dia que tive certeza que a história aconteceu. Quis ir lá perguntar seu nome, mas naquele momento isso não faria sentido algum. Ela estava mais bonita, com uma expressão mais segura e séria, mas ainda havia um jeito infantil, não sei se ela me viu ou se me reconheceu.;
- Esse cara tem sorte – eu pensei.
E nesse momento pela primeira vez achei que havia sentido algo próximo ao que chamam de amor. No menor de seus formatos, mais ainda assim, algum tipo de amor.


*Inspirado livremente na Música "Formato Mínimo" (Samuel Rosa - Rodrigo F. Leão) - Skank
Link para a letra: http://letras.terra.com.br/skank/70853/